terça-feira, outubro 27, 2015

amarelo um elo

apenas dez e cinquenta no bolso do vestido. no dia que me formei joguei todos os jeans do armário fora. só usei calças por motivos de pijama, teatro e enterro desde lá. berra um djavan numa casa alta. tão anos dois mil é escutar amarelo um elo. meio trapaça escrever uma rima dessas. tipo agosto desgosto amor dor macaco caco ana banana vegetariana. tem coisa que é fácil e bonita na voz de certas pessoas. não vi ninguém do grupo nesse fim de semana. uma cidade cara. o muro me diz pra melhorar. anoto uma curiosidade sobre a voz humana na aula de edição. sei lá porque gosto da medida hz. queria comer peixinho frito e conversar com meu doce amor de descendência espanhola sobre um livro de páginas amareladas numa luz amarelada numa casa no cosme velho em que até os grilos são felizes passando por lá. salsicha é mais barato. salada é mais moderno. uma das regras da felicidade contemporânea é com certeza fazer boas saladas. as modalidade olímpicas mais disputadas das décadas que virão serão cortar legumes como ninja e soltar nomes de temperos como quem joga sal num ovo estrelado, li numa revista. uma madrasta de um conto da infância de um livro que está guardado ao lado do livro ilustrado do macaco caco me dá um tapa na cara doloroso. eu revido com um cuspe no seu olho. ela me soca o estômago e me joga num pesadelo escuro. eu imploro para parar de crescer. tá de noite, poxa. a casa dos meus velhos é longe. quase quatro reais e quarenta quilômetros nos separam também. túneis, viadutos, pontes, crianças na rua, cercas elétricas. fico pensando se compro comida pronta ou se vou ao supermercado na voluntários. são quase dez e nem estou na mena barreto. penso que não aguento mais comer salsicha e nos amigos da quinta série que não falam mais comigo. sinto falta da tijuca. pastéis aos montes do Rico's Lanches e outras coisas específicas como o tijutrauma e a facilidade de sair de lá com o pé enfaixado. era tão bom. o jabuti da casa da Dona Ilse. o parque macabro no fim da Saboia Lima. meu converse all star machuca os tornozelos. corro até a voluntários. passo por uma mulher que é idêntica a Vera Holtz, caramba, é a Vera Holtz. foda. meu tornozelo sangra. involuntariamente procuro por rostos conhecidos na voluntários. não que eu queira falar com alguém. eu preciso correr para não comer salsichas. corro muito. tenho um projeto de medo de salsichas que me move. seguro com as duas mãos na minha própria nuca e saio destrambelhada. você não entende a minha vida. estou desenvolvendo um tipo de dislexia. e bipolaridade. a marcela não tá na voluntários. é segunda feira. o fato do cachorro quente ser ainda barato me deixa mais calma diante do desconsolo que está o resto todo. o cachorro quente é o meu novo colo de avó, é saber que existe colchetes e tem pessoas que os usam, é rede turquesa no nordeste, é a existência garantida de um amor amarelado. calorias de puro afeto. a flávia me encontra. tento fugir. ela não entende o papo das salsichas. me resgata do sangue do converse. fala para gente beber uma. amarela uma ela. mas e o pouco dinheiro, flávia? e o trabalho. a crise. a minha falta de modos na quinta série que eu nunca mais recuperei. a tijuca pouco iluminada. o fato de existir o longe e se chamar Berlin um exemplo dele. ah, flávia, minha nega. você não entende mesmo. jantei amendoins e líquido de milho.

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