sexta-feira, outubro 30, 2015

mina

disseram os poetas tropicais
mais calvos que qualquer
dor exposta ainda é menor
que a radiação do sol ao meio dia
por isso sinto falta de gostar da
emissão do som da minha
voz bem quando você está
me escutando falar das marés
e que com certeza jovens
cantam na Portobello Road agora. e
agora. e agora. e agora estou mais
velha. só conheço o nome dos
músculos porque eles
ardem. a cada vinte oito dias
sei que não sou mãe ainda.

mas no vinte e oito de agosto
concebi alegrias que registrei
com nossos sobrenomes. quindim
G.S. exploração a gaveta cheia de papéis
rabiscados G.S. passeio no museu G.S.
lunetas de mãos no metrô G.S. nossas
respirações próximas competiram
com a harmônica
de Viena G.S. bebês sorriram e
cresceram saudáveis depois de
ouvirem-nos. três tristezas que
eu chorei foram jogadas ao
buraco negro para nunca mais. seios
rígidos G.S. pelos ácidos G.S.
bandolins se tornam extremamente
inventáveis quando estamos
encaixados e cobertos. protegemos

nossa pele da insensibilidade aos
esbarrões do mundo. só de suspeitar
que Dona Iná ainda acredita
que o carinho existe, a expedição
pelo afeto reverbera em mim. o tráfego
de Copa me arranha. mas ainda mais
a estupidez dos homens que brincam em
disputar as lideranças.
cólicas de tanto ter São
Paulo engarrafado, pop ups das guerra,
bombas e gente comendo sujeira ao
mesmo tempo, o desconsolo dos úteros
desrespeitados.
entrei em pânico
pela possibilidade de dar tudo errado
e meus netos um dia não entenderem
o peso de 0,003mg da lágrima de um outro,
ou, pior, da própria.

sua foto G.S. apitando enquanto um feijão
é servido e a bisa comemora
o tamanho das pernas de cada bisneta
correndo num quintal esverdeado do
subúrbio. Catarina me faz festa quando chego. Sua lambida
golden-retriver com vira-lata
leva as minhas angústias por alguns minutos.
existe fevereiro, mãos, ideias, ciclos. mas
principalmente a força do feminino. gosto
da torta de damasco da bisa, dos gritos
sentidos, dos bêbados, de animais
me olhando, do entendimento dos corpos,
das grandes chances de mudança e
de ti ao som de Lou Reed G.S.

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