terça-feira, dezembro 23, 2014

to indo.

ô tia célia. feliz natal também. tá tudo bem sim. to indo pra bahia. e com você tia célia tudo bo. legal. que bom. me conta. já falou essa história já mas pode repetir tia. a gente se vê tão pouco e você me deu mais um peso de papel só porque sabe que eu sou a neta da tania que gosta de escrever. isso é bem querido. ah tia, ok que a gente não usa mais quase papel, mas você parou no tempo e só quer saber de repetir suas histórias. e eu até gosto de ouvir porque você tem um cheiro bom. daqueles que cavalgam no tempo e nos levam para as férias do começo desse novo século e milênio lá em secretário. mas que legal tia que você já passou pela bahia de carro e não quis voltar em salvador por conta do cheiro de xixi. tia, eu to indo. e não há nada que me faça mudar de ideia. pode me contar outra história. mas deixa eu só te falar umas coisas que eu jamais falaria para tia regina. porque essa coisa de fim de ano mexe muito com a gente e traz aquela mania de dar forma a tudo na vida transformando banalidades em acontecimentos e eles em resultados do tipo bom ou ruim de um ano x. só que essa matemática é tão errada quanto a firmeza das suas mãos um tanto quanto e cada vez mais trêmulas. mas tia to indo pra bahia para fugir um pouco da cidade bem doida que a gente vive e só pra perder essa mania de sempre esticar o pescoço na procura de um rosto conhecido. essa coisa praça são salvador. que é aqui no rio. mas pode também ter cheiro de mijo. eu to indo tia porque preciso afogar um pouco essa coisa minha de querer fazer mais e agarrar o mundo e cismar em encaixar toda vontade desejo e dever num tempo que quando a gente vê já foi. e to indo pra Bahia pra esquecer da mesmice, de um loirinho bonito, do amigo coxinha, dos preços altos, da corrupção e nesse vício de violência que a gente mergulha sem querer. e indo pra depois voltar, espero sentir falta dos amores que contaminam os cantos do rio. to indo pra bahia e lá prometi que não vai ter timeline. linha do tempo, tia célia, um espaço em que você junta tudo o que você tem e quer dizer e mostrar com o que os outros tem e querem mostrar, mas que no final acaba te fazendo ter menos coisa pra pensar ou mostrar. é bem louco. tia, to indo e vou bem no 24 do natal. fiquei empolgada com a coisa de ser de esquerda e resolvi brincar com as tradições. mas juro que vou sentir falta da vó um pouco alta de vinho branco tentando puxar o pai nosso enquanto o vô conta alguma história engraçada de algum parente que já morreu. e talvez eu tenha um sonho esquisito de que parente querido deveria morrer deitado numa rede depois de almoçar um bom peixe e colocar o pé no mar. não, você, não, tia. você não vai morrer ou pelo menos não antes que a tia regina. tia, já vou deixar você falar, o pavê tá na mesa e daqui a pouco tem aquele tio que em qualquer lugar do mundo que fale português manda a piada. mas talvez na bahia, lá onde eu vou, e to indo, juro, seja diferente. porque é lá onde os novos baianos cantaram minha carne é de carnaval, meu coração é igual. e é. cada vez mais. bom natal, tia. a gente se vê ano que vem com as mesmas histórias, disputando rabanada, não se esqueça de mim, não se perca de mim, não desapareça e talvez, quem sabe, você me dê mais um peso de papel, que eu adorei obrigada. me fala de você, antes que eu vá porque eu to indo.

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