Ana e Clarice
A- Ai, que susto, Clarice!
C- Tava aonde?
A – Fui falar com o Calé.
C – Vem comigo no banheiro?
A – Claro.
Acho normal duas mulheres irem ao banheiro juntas. É
cultural praticamente. Mulheres vão ao banheiro juntas. Mas existia algo
forçado na Clarice ao querer que eu fosse ao banheiro com ela. Não que nós não
fossemos íntimas. Éramos íntimas. Escolhíamos fazer matérias na faculdade só
para ficarmos juntas e sair pra beber depois, essas coisas. Só que esse ritual
de banheiro não fluía com ela. Parecia que ela queria que eu fosse lá e que eu
visse ela nua. Porque até quando tinha cabine, ela fazia questão de fazer xixi
com a porta meio aberta e se enxugar quase que de pé, abrindo a porta. Achava
aquilo estranho. Ela sempre puxava assunto “só para mulheres” comigo depois
disso, reforçando que ela gostava e tinha fortes opiniões sobre homens.
C – O que houve com o Calé?
A – Nada. Acho que o pai dele que não tá bem.
C – Por que?
A – Não sei. Ele não quis contar.
C – Deve ser invenção do Calé. Ele adora fazer esses rituais
deprês para depois beber e dizer que nós mudamos muito e que blablabla que bom
que a nossa amizade resiste. Enfim. En-te-diaaante.
Clarice adora cantar palavras. Clarice e eu entramos no banheiro.
C – Eu acho o Calé muito auto destrutivo. A gente ficava uma
época, lembra?
A – Aham.
C – Pois é. Eu achava uma coisa muito estranha. Ele não
queria transar toda vez que a gente saia. Muitas vezes a gente só saia pra
conversar mesmo. Como se ele ignorasse que a gente já tivesse ficado.
Ela abre a calça.
C- Ou que ele já tinha enfiado o pau dele em mim
antes.
Clarice olhou pra mim como se eu fosse reprovar o modo dela
falar.
A – Relaxa, amiga.
C - Po, então,um saco.
Ela abaixa a calcinha, ainda em pé e se olha rapidamente no
espelho.
C – Ficamos muito distantes desde aquele tempo. É uma droga
quem não sabe manter a amizade depois de ter transado. Acho o Calé bonito.
A – É. Mas é o Calé né.
O xixi começa a cair na privada. Eu transaria com o Calé. Eu
transaria com o Calé e a Clarice juntos. Mesmo sabendo dos riscos da nossa
amizade depois.
C – Ele manda bem.
A – Eu transaria com ele.
C – Ainda dá tempo.
Sobe a calcinha. Olha o bumbum no espelho.
C – Ai, ainda tá.
A – O que?
C – Roxo. Levei uma
mordida bem aqui.
Afunda o dedo no bumbum direito.
A – Tá ficando com alguém?
C – Ninguém em especial. Aquelas histórias que eu arrumo pra
minha vida sempre.
A – Pelo menos é divertido.
Ela sobe a calça, mas não fecha o zíper.
C – É.
Um silêncio. O barulho da água da pia caindo.
A – Vamos?
C – Tá com pressa?
A – Quero comer o quiche da Denise.
C – E o que você achou dela?
A – Achei ela muito divertida. Tem o humor que combina com o
Vitor. Acho que ela vai fazer bem a ele.
C – O Vitor não tem jeito,
Ana.
A – Todos nós temos.
Eu sinto que a Clarice tem um pouco de incomodo com a minha
calma e esperança nas pessoas. Ela é mais explosiva.
C – Deus te ouça. Ou Buda, Alah, qual é o Deus da India?
Ela fecha o zíper.
A – Vamos?
C - Sim, senhoooora.
Clarice canta a palavra de novo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário