quarta-feira, julho 13, 2011

Lucky

Um homem solitário, em seu apartamento de 62 metros quadrados em NY. Está frio, e o mundo, lá fora, é agitado. Ele com seu único contato há semanas, o peixinho Lucky e escrevendo cartas para Mia. Mia, aquela vaca que havia condenado o nosso protagonista há semanas, meses, décadas a mais profunda solidão. Ponto.

Um trago. O mundo em São paulo também é agitado e um escritor preso em seus símbolos e anseios fuma o seu maço de cigarros Lucky Strike e escreve, ou tenta escrever, sua história. Dentro do apartamento tudo era triste ou arrependimento, as contas vinham caras e o dinheiro vinha pouco. Gastava muito com cigarros, jamais fumaria um Derbi.
Mais um cigarro.
O romance. Romance. Pra quê? Pra quê toda alegoria? Necessidade de ego. Queria se tornar o ídolo de uma geração, apesar de criticar todos os ídolos de qualquer geração.
"Em NY seria mais fácil fazer sucesso"
Mais um cigarro.
Tragava profundamente à procura de inspiração. Profundamente como se a profundidade de seu romance ali estivesse e ali fosse encontrar.  Inspiração. Essa maldita que só aparece depois que o desespero já fez seu trabalho.
Tudo é lugar comum. NY é movimento.

Ponto. O homem se levanta, tenta ligar pra Mia. Nada, nenhuma resposta. Ela havia se mudado do Brooklyn. Vadia. Aonde está essa vadia? O nosso protagonista já estava perdendo as esperanças...

Jogou os papéis pro alto.
"QUE TUDO VÁ PARA O CARALHO A QUATRO"
Só queria ver Mia, ter Mia. E pouco importavam os livros e as merdas das prosas.
Mais um cigarro.
A fumaça presa na garganta. Fumaça por todo o quarto.
"Bukowski, eu te decepciono a cada momento"
Mais um cigarro.
Finalizou sem piedade o maço e o conto.
Good Luck!

O protagonista morre de asfixia, porém antes escreve no vapor do espelho: "Good Luck, good Lucky."

Nota: O escritor finalizou o conto, largou o apartamento e foi ao encontro do movimento da rua, encontrar a sorte. 
Ou pelo menos, Mia.

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