terça-feira, julho 14, 2009

A espera.

Ele me prometeu que chegaria cedo. Falou que às dez estaria em casa, que jantaríamos juntos. Sua demora me incomodava, e, impaciente, esperava.
E como esperei. Parecia que os ponteiros do relógio não andavam enquando olhava para eles e quando deixava de olha-los: eles voavam. Tentei me distrair, liguei a tv, acendi um cigarro, ouvi umas músicas, mas, nada me prendia. Resolvi esperar quieta, porém, coisas que só percebemos na agonia do silêncio não me deixaram tranquilizar.
Fui até a janela, na tentativa de encontrá-lo em cada movimento, em cada sombra, em cada esquina e em cada ruído e nada. Decorei todos os números dos ônibus que passavam na rua e estava quase sabendo diferenciar o som dos motores de carros. E as horas se transformavam em longas eras.
Eu o esperava, esperava... e nada. Filho da puta, nada. Apenas barulhos cada vez mais agoniantes: ônibus mais barulhentos, ponteiros torturadores do rélogio da parede, o barulho das grades do elevador, o telefone do vizinho, os passos do vigia noturno, os pingos do ar-condicionado, as unhas das patas do cachorro batendo sobre o sinteco, as folhas se arrastando no chão, o vento batendo na janela... AAAAA, tudo isso se repetia e juntava-se formando uma sinfonia enloquecedora.
A porta continuava fechada.
E ele não chegava.
Pensamentos se atropelavam na minha cabeça - "Será que ele tem outra?", "Galinha, viado", "Talvez, possa ter sofrido um acidente", "Vou ligar pra polícia!", "Mas, se ele não me quer mais?", "Será que estou velha para ele?", "A culpa é minha", "Pode ter sido só um incidente", "Eu vou sair por aí atras dele", "Fica calma, porra!", "Como eu queria acreditar em Deus, só para poder rezar nessas horas"...
Barulho no corredor. Chaves na porta! O trinco se movendo!! É ele!!!!
Ele chegou, me olhou e antes que ele falasse as suas desculpas, eu o beijei. Aí, finalmente, a terra voltou a girar.
(Escrevi isso inspirada num texto que li de Jean Cocteau)

2 comentários:

  1. Gabi, não tem como não dizer isso,mas vejo uma mistura de sensibilidades, olhares, jeito. E me certifico que essa coisa chamada genética é muito mais forte do que pensamos. Mais uma vez estou arrepiada e encantada. Vejo nascer uma escritora,com o mesmo talento e entrega que vi nascer uma atriz.
    GOSTEI MUITO !!!
    Bjs filhota.

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  2. Já pode começar a publicar no jornall emmm!
    Atriz e escritoraa!

    Vou ver se ainda consigo ser empresário, pra patrocinar essa excelente detalhista textual!

    bjusssssssssssss

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